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24 Rés-do-Chão

24 Rés-do-Chão

Verão com o Alex

Parece-me que toda a gente se cansou de conhecer o mundo e o vê sempre da mesma forma, com as mesmas cores e segue exactamente as mesmas regras para viver nele como se houvesse um manual obrigatório. Eu não quero ter sempre dias iguais.

Isto tudo tem uma razão de ser e remonta ao verão em que conheci o Alex, à dois anos atrás. O Alex era um francês de, na altura, 17 anos e eu uma portuguesa de 19. Ele alto e loiro com uns olhos que traiam a sua cara de menino bem comportado, a minha avô gostou logo dele, até porque os seus avós eram conhecidos dos meus. Se a minha avô ao menos soubesse do que era feito este francês.

A duas semanas de acabarem as minhas férias, ouvi a minha avô chamar por mim, dizia que tinha alguém à minha procura, que estranho, pensei eu. Quando o vi ainda achei mais estranho. Apresentou-se como sendo o Alex e que como a sua companhia até então teria voltado de onde tinha saído, a avô falou-lhe de mim e lá veio ele, no seu francês perfeito, gesticular que queria falar comigo. Combinámos, que nessa noite ele me iria chamar para darmos uma volta depois do jantar. Assim foi e criámos logo ali uma ligação pouco própria de dois jovens que nunca se viram. A partir dessa noite vimo-nos sempre, ele gozava comigo por, sendo eu mais velha, ser obrigada a estar à meia-noite em casa, a minha avô não é pessoa com quem se discuta essas coisas, mas mais 10 minutos nunca fizeram mal a ninguém.

Ele realmente não tinha nada de bem comportado e a nossa química era palpável, passávamos as noites a ouvir as suas músicas de festa e fumar um cigarro ou dois. Mas falávamos bastante de mim e da minha relação que não funcionou meses antes, dele e da sua predilecção por mulheres mais velhas e do que mais houvesse para falar. De vez em quando íamos até à praia terceira, de tarde, dar uns passeios de horas. Ele acusava-me de "me aproveitar dele" e de tomar vantagem de um estrangeiro inocente e eu dizia que em Portugal, não é o caso se o sujeito inocente consentisse, embora nunca tivesse acontecido algo entre nós, a não ser uns beijos que me davam a provar o tipicamente francês. O avô dele chegou a apanhar-nos num desses momentos, mas dizendo algo em francês ao neto e sorrindo para mim nos deixou por nossa conta.

Foram assim as minhas últimas semanas, a conhecer um jovem francês que parecia saber como viver sem pudores ou restrições e ainda assim, saber o que queria da vida em adulto. Posso dizer que ele era o verdadeiro cavalheiro, para alguém em tão tenra idade e para alguém que não se contenta com apenas uma rapariga. Sim, percebi que os franceses têm uma costela para o very kinky.

Na última noite em que o vi, embebedei-me de tal maneira que acabei com o cabelo a ser segurado por ele e com ele a levar-me ao colo para casa dele - não me orgulho disto, neta alguma da minha avô acabaria nesta situação, sorte a minha que ela nunca soube.

Nessa noite, era suposto estar em Lisboa e ele dormir sozinho. Mas dormi com ele, na mesma cama, digo. E ele, deitado comigo em conchinha, a fazer-me festas na barriga até eu adormecer, quando qualquer pessoa com dois dedos de testa sabe que a noite deveria ter acabado com festas em outros lados e com outro tipo de posições. Mas que se lixe. Na manhã seguinte acordámos às 7h e ele esperou comigo na paragem do autocarro durante um longo tempo.

Nesse verão, conheci alguém que vive de maneira diferente de mim e embora não falássemos a mesma língua, criou-se uma ligação que até então não conhecia. O Alex mostrou-me que um dia não é só mais um dia a juntar aos outros, que não faz mal ver as coisas pelos nossos olhos e tirar-mos proveito disso. Hoje, ainda consigo dizer, com saudade na voz, que nunca me senti tão eu e tão livre como nas duas semanas que passei com o francês Alex.